quinta-feira, 2 de outubro de 2008


História de São Luís no tempo
A capital maranhense, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, no início abrigava apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Aqui ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás - entre 200 e 600, segundo cronistas franceses - viviam da agricultura de subsistência (pequenas plantações de mandioca e batata doce) e das ofertas da natureza, caçando, pescando, coletando frutas.
Em 1535, a divisão do país em capitanias hereditárias deu ao tesoureiro João de Barros a primeira oportunidade de colonizar a região.
Tesouro
Na década de 1550 foi fundada a cidade de Nazaré, provavelmente onde hoje é São Luís, que acabou sendo abandonada devido à resistência dos índios e a dificuldade de acesso à ilha.
Daniel La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, acompanhado de cerca de 500 homens, chegou à região em 1612 para fundar a França Equinocial e realizar o sonho francês de se instalar na região dos trópicos. Uma missa rezada por capuchinos e a construção de um forte marcaram a data de fundação da nova cidade: 8 de setembro. Logo se aliaram aos índios, que foram fiéis companheiros na batalha contra portugueses vindos de Pernambuco decididos a reconquistar o território, o que acabou por acontecer alguns anos depois.
Comandada por Alexandre de Moura, a tropa lusitana expulsou os franceses em 1615 e Jerônimo de Albuquerque foi destacado para comandar a cidade. Dos fundadores restou o nome de São Luís, uma homenagem ao rei francês Luís XIII estranhamente mantida pelos portugueses.
Açorianos chegaram à cidade em 1620 e a plantação da cana para produção de açúcar e aguardente tornou-se então a principal atividade econômica na região. Os índios foram usados como mão-de-obra na lavoura. A produção foi pequena durante todo o séc. XVII e, como praticamente não circulava dinheiro na região, os excedentes eram trocados por produtos vindos do Pará, Amazônia e Portugal. Rolos de pano eram um dos objetos valorizados na época, constando inclusive nos testamentos dos senhores mais abastados.
Praça do Comércio
Em 1641, foi a vez dos holandeses de Maurício de Nassau, que já comandavam Pernambuco, tomarem a cidade. Chegaram pelo porto do Desterro, saquearam a igreja que nele fica e só foram vencidos três anos depois. Preocupado com o isolamento geográfico e os constantes ataques à região, o governo colonial decidiu então fundar o Estado do Maranhão e Grão Pará, independente do resto do país. A criação da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão, em 1682, integrou a região ao grande sistema comercial mantido por Portugal. As plantações de cana, cacau e tabaco eram agora voltadas para exportação, tornando viável a compra de escravos africanos. A Companhia, de gestão privada, passou a administrar os negócios na região em substituição à Câmara Municipal. O alto preço fixado para produtos importados e discordâncias quanto ao modelo de produção, geraram conflitos nas elites que culminaram na Revolta de Beckman, considerada a primeira insurreição da colônia contra Portugal. O movimento foi prontamente reprimido pelas forças governistas.
Na segunda metade do séc. XVIII, devido a Guerra da Secessão, os Estados Unidos interrompem sua produção de algodão e abrem espaço para que o Maranhão passe a fornecer a matéria-prima demandada pela Inglaterra. Em 1755 é fundada a Companhia Geral do Comércio do Grão Pará e o porto de São Luís ganha enorme movimento de chegada e saída de produtos. Com a proibição do uso de escravos indígenas e o aumento das plantações, sobe muito o número de escravos negros.
Se desde o final do séc. XVII novos elementos da civilização européia já chegavam a São Luís por vias marítimas (com destaque para os religiosos carmelitas, jesuítas e franciscanos, que também passaram a educar a população), este processo de modernização aumentou no novo ciclo econômico, trazendo benefícios urbanos para a cidade. Durante o período pombalino (1755-77), acontece a canalização da rede de água e esgotos e a construção de fontes pela cidade.
Em 1780 é construída a Praça do Comércio, na Praia Grande, que se torna centro da ebulição econômica e cultural de São Luís. Tecidos, móveis, livros e produtos alimentícios, como o azeite português e a cerveja da Inglaterra, eram algumas das novidades vindas do velho continente.Os filhos dos senhores eram enviados para estudar no exterior, enquanto na periferia da cidade, longe da repressão da polícia e das elites, os escravos fermentavam uma das culturas negras mais ricas do país. Entre as abastadas famílias de comerciantes estava a senhora Ana Jansen, conhecida por maltratar, torturar e até matar seus escravos.
Rua Portugal na Praia GrandeAlém de dar nome a uma lagoa que fica na parte nova da cidade, Ana Jansen é também lembrada através de uma lenda: sua carruagem, puxada por cavalos brancos sem cabeça, estaria circulando ainda hoje pelas ruas escuras de São Luís. O grande fluxo comercial de algodão, que chegou a fazer da capital maranhense a terceira cidade mais populosa do país (atrás apenas do Rio de Janeiro e Salvador), entrou em decadência no fim do século XIX, devido à recuperação da produção norte-americana e a abolição da escravatura. A produção agrícola foi aos poucos sendo suplantada pela indústria têxtil que, além de matéria-prima, encontrou mão-de-obra e mercado consumidor na região. A nova atividade colaborou para a expansão geográfica da cidade e surgimento de novos bairros na periferia.

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