segunda-feira, 29 de setembro de 2008

PRAIA GRANDE: Uma História de Resistência/ Lana Lourdes Pereira
BAIRRO DA PRAIA GRANDE
Origem:
Com o desenvolvimento da lavoura mercantil, ocorreu um crescimento em larga escala nas exportações agrícolas que produziram um arranque repentino de progresso.
O porto vai ser o grande corredor de escoamento para aquele comércio emergente, e em função deste surge o primeiro bairro comercial de São Luís.
O bairro comercial de São Luís, como em tôdas as cidades, surgiu no pôrto, na Praia Grande, assim chamado em contraposição à que lhe seguia pelo lado direito - a Praia Pequena- que desdobrava em duas outras, denominadas Trindade e Santo Antônio.A princípios era um bairro acanhado e pobre, onde despontavam grandes olhos d'água e frondosos juçarais e vivia constantemente encharcado das enxurradas que recebia do outeiro.
Segundo, César Marques, a primeira notícia sobre a formação da Praia Grande, data de 01.01.1780 quando Lisboa pedia ao governador do Maranhão a remessa de uma planta das obras que se pretendia fazer e do cais. A notícia que encontramos para a formação da Praia Grande acha-se na Provisão Régia de 1º de janeiro de 1780, pedindo-se nela de Lisboa ao governador e capitão-general do Maranhão a remessa da planta da obra, que se pretendia fazer, e de um cais, dando-se terrenos para se edificar em um ano a fim de formar uma praça regular. No mesmo ano foi indagado se os particulares fariam mesmo essas obras com segurança e brevidade. Provisão Régia de 18 de novembro do mesmo ano foi ordenado ao governador para indagar se os particulares aos quais foram concedidos terrenos na raia Grande faziam as obras projetadas com segurança e brevidade...
Esse bairro passou muito tempo sem receber nenhum tipo de cuidado do Senado da Câmara, que segundo Viveiros, não tinha nem recursos, nem gosto, para manter pelo menos a salubridade da cidade. Dom Diogo de Sousa foi o primeiro governador a se preocupar com o estado de penúria do terreiro público da cidade, lugar onde eram negociados a guarda e venda dos produtos da lavoura.
Que em cidade alguma era tão necessário o estabelecimento de um Terreiro Público para a guarda e venda dos gêneros, que os lavradores colhiam, como nesta, onde tudo chegava por mar, e ou se passava às mãos dos regatões, que os sonegavam para os vender por alto preço, portanto, e muito principalmente porque sua Majestade mandava, passava a exigir o mencionado Terreiro Público.
Em 1784, o Governador e Capitão General José Teles da Silva comunicou ao Ministro Martinho de Melo e Castro as dificuldades dos descarregamento dos navios e por isso havia mandado construir um cais em frente a Alfândega. E que ele seria prolongado pelos habitantes que recebessem terrenos para edificarem suas casas naquelas proximidades, formando, então uma praça de 40 metros.
Estas habitações geraram insatisfações entre os lavradores da cidade, que não aceitavam moradias próximas a uma praia junto da Alfândega.
Embora o Alvará Régio que permitia a construção da praça, datasse de 01.02.1798, foi somente no governo de Dom Antônio de Saldanha da Gama (1804) que foi autorizado a José da Costa Oliveira, contratador da cachaça, a construção. Já em 1805 a Câmara reclamava da pouca segurança das barracas. Mesmo assim, no mês de outubro estava concluída a nossa primeira feira que era conhecida naquela época por : celeiro público, barracão, curro e tulha. Foi esta a origem das barracas, que vimos na Praia Grande e que desapareceram há pouco tempo. Nestas barracas eram comercializados todo tipo de gênero alimentícios. Não sendo permitido a venda de carne bovina, visto que ela só podia ser comercializada no Açougue Velho ou Portinho. As posturas municipais regulamentavam o comércio, com medidas das quais destacamos: o horário de funcionamento era das 5 h as 17 h; os barraqueiros eram obrigados a manterem nas janelas dos seus aposentos uma lanterna ou lampião desde a entrada da noite até a corrida da sineta pela manhã; quem infligisse as medidas pagariam multa de dez mil réis, prisão de trinta dias, perda de gêneros, que seriam dados aos presos a ao denunciante, em partes iguais. A feira recebeu seu primeiro regulamento em 1820 e passou a funcionar com o nome de Terreiro Público ou Casa de Tulhas. Contudo, mostrando-se impraticável, esse regimento foi modificado um ano depois. O seu administrador João Antonio Garcia Abranches - o Censor - em 1828, comunicava ao presidente da Província Costa Pinto, ser o regulamento da Casa das Tulhas um verdadeiro caos, visto que aumentaram os impostos, diminuíram o tempo de pagamento, amontoaram dificuldades na fiscalização, etc. A Câmara percebendo que a administração não funcionava devido a inúmeras irregularidades decidiu extinguir as barracas em abril de 1833.
Nas fontes, fica clara a importância daquele centro para a comercialização dos produtos regionais, já que o cargo de administrador da Casa da Praça (era chamada na época) era bastante cobiçado, visto que no final da 1ª metade do séc. XIX proporcionava ao seu ocupante a soma de oitocentos mil réis e o status social. Em 1834 o governo instalou um depósito de farinha para por fim aos desmandos dos monopolizadores do produto que forçavam os lavradores a venderem seu artigo a preços baixos, pois não tinham onde guardar a carga. Desta situação surgiu a idéia do depósito, que a cada paneiro depositado cobrava a Câmara 30 réis. Mais tarde passaram a cobrar essa taxa mesmo para aqueles que descarregassem e não usassem o depósito.
Após o desaparecimento das antigas barracas da Praia Grande a população começou a reclamar, pois achava mais prático adquirir gêneros naquele setor de abastecimento. Para tentar solucionar tal problema, foi iniciada em 1855 a construção da Casa da Praça, contudo o seu término só se dará em 1861 pela Companhia Confiança Maranhense. Em 1859 incorporou-se à Companhia Confiança Maranhense tendo por fim a construção de um edifício retangular, de risco elegante, no lugar das referidas barracas, destinado para o mesmo fim. A Casa da Praça era um conjunto arquitetônico com formato quadrilátero, tendo no centro de cada uma de suas alas um portão que dava acesso a um jardim interno. Na fachada principal, colocaram uma bandeira de ferro possuindo as iniciais CM e a data de construção 1861. Em cima esculpida em lioz as armas do Império.
É importante destacar-se que a construção da Casa da Praça, depois do porto, foi de grande valia para o surgimento do bairro da Praia Grande, visto que na periferia daquele logradouro foram sendo construídos imponentes sobradões onde funcionavam os armazéns, casas comerciais e residências.
Os comerciantes também tiveram papel fundamental na urbanização deste bairro aterrando pântanos, secando os olhos d'água, roçando os manguais, construindo o cais, trapiches e até mesmo organizando a Companhia Confiança , para substituir as feias barracas do antigo Curro.

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